quarta-feira, 20 de março de 2013

O Ultimo Sinal

   Viu sair do céu nublado um raio de sol tímido mostrando um relance de céu azul e mesmo assim não atentou pro que viria. É que o tempo levara embora todas as referências, tão antigas quanto algumas fotos amareladas de máquinas a filme, dessas que cheiram a nostalgia apenas pela simples menção. Entrou na igreja, como já fora de praxe, e  ia ajoelhando-se quando viu num canto tal inesperada presença, conversando com o padre, compenetrado, a voz grave, lembrou-se depois do relance de céu azul, era isso. Era esse o sinal.
( por que  mesmo se fora o dia mais cinza
 se o sol lhe saia ( tão timido) 
sabia
da esquina viria
inesperado
surgia
numa doce rotina
de não combinar )
  Ele a vira também e já vinha, os braços abertos, o mesmo rosto infantil (mas não eram mais de dez os numero de anos que se passaram desde a ultima vez?) e a saudação alegre na forma de seu nome ( como quando ela descia do ônibus na rodoviária, recém chegada das Gerais).
      Ela o abraçou também, e tudo  vivo, fora do lugar, mas dentro da cabeça ( como pode espaço tão pequeno guardar tanta coisa?), julgou-se errada por estar tão feliz. "Eu vim rezar..." disse, e ele por sua vez "Eu vim trazer minhas alianças para o padre abençoar. Vou me casar em breve.". E a noticia causou-lhe jubilo. Jubilo! Estranhou a si mesma depois sorriu. O próprio dedo lhe gritava o por que do sentimento inadequado. Já não fazia sentido importar-se quando o destino se encarregara de colocar em seu dedo o mais bonito dos aneis. "Eu também me casarei! Em breve!" celebrou
  E não deixava de estranhar aquela aparência imutada, aquele semblante infantil, pois as noticias que recebera dos amigos incomum  chegaram contando que ele engordara alguns quilos, estava calvo, tornara-se homem enfim, e agora aquela cara de menino? Algo estava fora do lugar concluiria depois, não se encaixava. Não parecia possivel, mas era, afinal de contas, ele não estava ali?
  "Eu tenho ainda algumas coisas suas..."  ele disse e tirou do bolso duas fotografias dela, em preto e branco , um lenço rosado e um vidrinho de perfume "Estavam comigo, precisava devolver..." ela olhou aquelas coisas e viu que eram mesmo dela, mas antes dele falar ela sequer lembraria que estavam perdidas, sumiram, claro, ela nem soubera como, mas estavam de volta, ele as guardara o tempo todo, mas se o encontro fora inesperado então por que ele levava tudo aquilo no bolso?
       A igreja tinha as paredes pintadas e os vitrais coloridos, sairam juntos dali e ganharam a rua, ele repetiu "Estou te devolvendo. E estou feliz em te ver de novo..." Ela não entendia por que tão feliz em ter aquelas bugigangas de volta e menos ainda em vê-lo casar-se ( Era como se ele se fora de vez.  Ele não mais dela e mais que isso, ela não mais dele. Lembrou-se do próprio noivo, tão sorridente e piegas, ele trouxera as coisas belas de volta.). Caminharam um pouco em silencio e sorriso. Abraçaram-se novamente. Despediram-se. Ele seguiu seu caminho de um lado. Ela foi seguir o dela de outro. Eram seis e trinta e cinco.

Nenhum comentário: