sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Meu clichê de fim de tarde...

      Eu vou vivendo a vida e passando pelos lugares, reparando por onde passo, no tamanho que tem o sol.
     Eu passei a vida na janela esperando o sol se pôr. Eu andei pelas ruas, eu terei mais de mil anos e ainda vou lembrar, por que sempre por onde eu passo tenho essa mania com o olhar. É o fim de tarde, o sol caindo. 
     Vou viver mais de mil anos e terei comigo os fins de tarde, eu sentei-me na mureta e vi o sol ir embora. Meu pai me ensinou, eu vi o pôr do sol com ele primeiro. Depois sozinha, depois com todos, eles vieram e se foram, o sol foi o único que permaneceu.
      Com aquela cor nas casas, com aquele vento úmido, a tarde caia em Taubaté, a tarde caia atrás da serra, a tarde caia sobre as árvores da escola nas tardes de sexta.
    A tarde caia enquanto sentávamos na Avenida do Povo, enquanto ele me beijava (o mundo parava, mas a tarde caia), a tarde caia na cidade tão distante, a tarde caia da janela do meu quarto em formato de docinho, a tarde caia quando lia um livro no atrio da igreja, a tarde caia pelos morros e igrejas, a tarde caia quando me vi mulher afinal.
    A tarde caia enquanto a vida me iludia, a tarde caia quando eu me vi sozinha. A tarde caia quando eu levantei, a tarde caia quando tomei rédea de mim, a tarde caia todos os dias, linda lá na memória, a tarde cairá pra sempre nos poros de minha pele, na canção imortalizada.
   A tarde cai, cairia  e cairá, embora os sonhos mudem, as pessoas passem e a vida caminhe. Eu passarei e ela continuará caindo. Estranha, pesada, plácida e infinita. Pelas cruzes tão vazias da morada no alto do morro.

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