quarta-feira, 25 de julho de 2012

A Divina Comédia da Vida ( desabafo sobre meus dias em Mariana)

        Sentada na varanda da minha antiga República. Eu obviamente passei os últimos dias repensando em minha vida e em quanta coisa já aconteceu. E, meu Deus, quanta coisa já aconteceu! A cidade mudou muito pouco, mas as pessoas vieram e se foram, e há algo em mim que morreu. E isso me pareceu tão grande....
           Há  também a saudade daqueles dias, na qual vejo que muitos de meus ex-companheiros ainda estão imersos. Há, ás vezes, a sensação de jamais ter saído daqui, dada a igualdade de certas situações, como se o último ano e meio não tivesse acontecido ( e na verdade foi um ano de visceral dor e luto, difíceis mas necessários, a metáfora da fênix se enquadra aqui, mas prefiro deixar pra lá. Esse texto já está cheio de clichês), mas antes de tudo teve o confronto comigo mesma
           Houve uma Dani que morou aqui uma vez que era muito mais jovem e tinha dentro do coração mil e um sonhos e nenhuma ideia de como realizá-los. Houve uma Dani que morou aqui e era de uma inocência atroz. Houve uma Dani que morou aqui que se afundava em tédio, depois em preguiça. Houve uma Dani que  morou aqui e que tinha acessos de raiva ao sentir morrer seu potencial criativo, ruminando uma faculdade que não gostava e um relacionamento doentio. Houve uma Dani que morou aqui que rezava para ir embora de uma vez e que isso doesse o menos possível. Nenhuma das duas preces foram atendidas. Deus jamais deixa de nos dar o que é necessário ao espirito. Nem que seja a dor.
        O confronto foi forte, como se nos tivéssemos trombado na rua, como se dois carros em alta velocidade se chocassem. Com o impacto caímos as duas por instantes, presente e passado, mas o presente falou mais alto, levantei-me, me vi de frente, finalmente mulher. Finalmente me encaro, aos 24 anos, com um pezinho no abismo misterioso do destino, pronta pra fazer malas de novo e ir em busca do próprio sonho.  
        Foi de fato uma surpresa. Eu tinha tabus e tinha meus medos. Me julgava relegada ao esquecimento, ora essa, a vida me mostrou como meu próprio vilão mora dentro da minha própria cabeça, eu que sempre me dediquei tanto... Não fui esquecida como pude constatar, neurose minha, mas fui deveras esperada, pelos bons amigos que Deus me deu.
        Passamos todos por um processo duro de amadurecimento no ultimo ano, que destroçou sem nenhuma pena tudo aquilo que restava de inocência na nossa existência. E durante muito tempo de trevas, eu não tive a minima esperança de que aquilo pudesse de fato passar. Mas passou, minha gente, passou. E a Dani que caminha por essas ruas, que visita essas ladeiras e abraça essas pessoas é deveras leve e bem amada . (amém)  
       A vida caminha para frente como um trator, por mais que se queria parar no tempo, ele te empurra. Isso eu tenho dito muitas vezes por esses dias por que nunca essa constatação me pareceu tão certa. Aqueles que aqui ainda moram, remanescentes daquela época me parecem meio perdidos no limbo das novidades, loucos para também fugirem daqui. A vida há de nos separar a todos se tivermos sorte. Por que é isso que sempre quisemos.
         E são duas igrejas na mesma praça, e são colinas de um verde de fazer doer os olhos, é a torre do colégio onde trabalhei, é o cheiro da casa onde morei, é o jeito manso de falar, são os sinos que não param de tocar, tudo isso me fez ver que a minha vida assim mesmo seguiu, como o trator do tempo tratou de esmagar alguns antigos sonhos cheirando a mofo, tratou de me trazer os novos para ocupar-lhes os espaços. Já era hora. 
         Não sei quando se deu isso, mas não me refiro mais a mim mesma como garota. Por que não cabe mais. Sou mulher não por escolha, mas por que o tempo quis assim. Parece bobagem, mas é o espelho embutido no espirito que dá toada daquilo que vemos refletido do lado de fora.
Finalizando, tem sido libertador. Essa é a palavra... Ainda tenho mais uns dias por aqui , e amanhã talvez caia o último dos tabus que ainda não enfrentei. Como nos filmes de ação, o embate mais difícil é sempre o ultimo. Pois que venha  e se vá. Já é hora de sorrir e seguir em paz. Já foram lágrimas demais....




ps: o ultimo dos tabus caiu, leve como uma folha seca de uma arvore, sem nenhuma dor, sem nenhuma vontade. Simplesmente caiu por terra , deixando nenhum rastro. A vida vai se encarregar de  fazer justiça as magoas que deixei pra traz. Mas como repeti ontem a exaustão, não estarei aqui pra ver a derrocada. Icebergs degelam por dentro em silencio e quando menos se espera paredes de gelo milhares de anos conservadas vão abaixo, como o castelo de cartas  fragil que sempre foi. Mas até ai estarei longe demais pra me lembrar.....

5 comentários:

Cris Moreira disse...

Olá Daniele!

Descobri seu blog através de uma publicação no jornal local: O Liberal de circulação semanal, mas você já deve saber disso né?! rsrs

Bom de qualquer maneira, após ler o jornal, resolvi visitar seu blog, e olha gostei do que li. Gostei muito dos seus textos.

Parabéns e que não lhe falte inspiração nunca! =)


Beijinhos *-*

Mário Vercetti disse...

Dani
Como foi bom revê-la por essas bandas. A saudade que sinto dos tempos que vivemos me aperta o coração e cutuca feridas que espero ansiosamente que logo se cicatrizem. Mas a sua presença por aqui me ajudou a ver que as dores passam e o mundo dá voltas. Espero que, em breve, os únicos sentimentos que restem dos tempos da boa e velha Divina Comédia sejam como aquela saudade gostosa que sentimos da simplicidade da infância. Me alegrou muito vê-la novamente por aqui tão divertida e cheia de vida, exatamente como eu me lembrava de você. Tenho certeza que ainda atingirá o sucesso - não aquele sucesso material e superficial que a maioria das pessoas esperam, mas um sucesso de espírito, uma plenitude de estar fazendo exatamente o que seus sonhos pedem de você.
Um forte abraço com muito carinho,
DaLua

Daniele Andrade disse...

Sim, o Da lua me fez chorar. de novo.

Lígia disse...

Muito bom Dani!!! ME emocionei!!!

Thata disse...

Um dos seus mais belos textos.... chorei...