domingo, 3 de junho de 2012

A Outra (parte 4)

Dia 40:
  Chamei um padre. Ele disse umas coisas em latim, jogou água benta. Ao toque da água benta, as luzes piscaram, senti que aquilo poderia dar certo. Latim é a língua oficial do além até onde eu sei, podia ser que agora elas finalmente compreendessem. 
  Padre benzeu, rezou e no final tocou meu ombro "Fique em paz, minha filha, o que quer que estivesse lhe atormentando já foi embora..." e finalmente senti que alguma paz pairou sobre o ambiente. Acho que elas finalmente foram embora. Veremos.
Dia 43:

  As pessoas ficam abismadas quando eu conto sobre minha casa, me perguntam se eu não tenho medo de fantasma. Não sei. Na verdade sou a pessoa mais maricas desse mundo e provavelmente do outro, mas se tenho um medo maior que de assombração é de perder a bocada que é esse aluguel. 
  Hoje o elevador resolveu funcionar e eu estava lá quando dona Hermengarda entrou. A velha ainda me perguntou sobre como estava a situação. Eu contei que já tinha chamado padre e pastor e não tinha dado certo. "Eu avisei menina!" ela riu. Enfim, enfim...


 Dia 50:
  Renato chegou de Macaé e deu um pulo aqui pra ver qual era. O apê bagunçadinho do meu jeito "Cade aquelas assombrações abençoadas?" ele ainda teve a coragem de perguntar  e eu quase bati nele "Não convida , não sente falta, que elas voltam! Finalmente ando tendo sossego pra dormir, tá ótimo..." e era bem verdade mesmo, estava ótimo.   Sobrou um dinheirinho esse mês e fomos ao Outback. Comemos como dois mendigos esfomeados. 
  Depois, de barriga pra cima no sofá, eu bem tentei dormir enquanto ouvia a cama do Marilia Gabriela ranger no apartamento ao lado, onde a piriguete do dia,  quase tão escandalosa quanto o pastor que teve aqui semana passada, mas para o mal,  gritava "Tá quase, não pára, tá quase, tá quaaaaaaase fazendo gol!!!" e fiquei me perguntando quantos pastores seriam necessários para exorcizar aquele capeta em forma de biscate!
  De estomago e saco cheios subi quatro lances de escada e me sentei na laje do prédio. Acendi um cigarro e fiquei pensando na vida. Qual não foi minha surpresa, o Marilia Gabriela aparecer por lá algum tempo depois "Você porrrr aqui, meu amorrr!" e eu não acreditei na minha pouca sorte "Eu é que pergunto. Você por aqui?" ele riu , sem graça " Sempre venho aqui quando elaxxx vão embora....Sacumé, né, pensar na vida..." eu tomei um susto "Porra, você faz isso?" "Isso o que?" "Pensar na sua vida!!" "Mas é claro, tenho só a minha vida pra pensar, vou pensar na dos outros?" Toma cheirosa!!! Quem ia imaginar o Marilia Gabriela dando lição de moral! Ainda fiquei algum tempo ali  ouvindo ele contar das proezas dele com mulheres e do dia que flertou com a Flavia Alessandra no semáforo "Você é um figura, menino do Rio!" eu ainda disse. É que a costela do Outback faz meu dia tão feliz que começo a ver as pessoas melhores do que elas são. Ele riu. E me disse " Não me chama  de menino do Rio. Por que não sou o único cara que mora no Rio de Janeiro, dai, se um dia você me chamar e tiver mais de um carioca na conversa, vai dar confusão..." e eu pensei que nem costela do Outback consertava aquele vazio que ele tinha no lugar onde devia existir o cérebro. Apesar disso, ele é um amor e quando eu contei para ele a história da assombração no meu apê ele se ofereceu "Quando tiver com medo dorme lá em casa...." Sorte que eu não tenho taaanto medo assim. De qualquer forma, bom fazer amigos. Mesmo que eles sejam portas! ( é, eu não sou uma boa pessoa.)
 Voltei pra casa e minha sala estava no mais perfeito estado de ordem e arrumação. Ai não né. Ai não dá. Amanhã é pai de santo, se não der certo tem monge budista e medium do centro espirta. Essas duas vão embora nem que eu tenha que chamar os ghostbusters!





3 comentários:

Unknown disse...

Quando chega a quinta parte?

Daniele Andrade disse...

Segunda feira a quinta e ultima parte estará aqui sem falta!!!=)

Unknown disse...

Lega al! ;-I