terça-feira, 12 de junho de 2012

FRED

                            

                                      (SOM NA CAIXA QUE HOJE É DIA DE PIEGUICE!)  



           Ela estava insegura. Era véspera da grande viagem  e tudo parecia tão novo que ela não conseguia mesurar direito o que lhe esperava. Por isso o medo na verdade era o mais estranho que tivera na vida, indefinido. Fazia calor por aqueles dias e era terrível ver o quarto desmontado, as coisas embaladas, oh meu Deus, que era tudo aquilo afinal?
        Ele estava bem triste. Sabia no fundo que a distância seria muito maior pra ele, pois se já havia a distância da idade, dos amigos (ela sempre na frente, como se nunca pudesse alcançá-la, quantas vezes não havia dito isso e quantas vezes ela não sorria 'Você é bobo, não tem nada demais...' ) agora haveria também a distância física, era mais do que ele conseguiria suportar talvez, no fundo ele temia, mas não dizia, ela precisava de toda força agora "Eu tenho um presente pra você..." ele disse. 
       Há muito tempo que não se via coisa assim, desses amorecos bonitinhos, de namoro na pracinha, que até as professoras observavam e deixavam adultos com saudade do passado. Na falta de lugar, namoravam na linha do trem ás vezes. Tinha música também, mas ninguém ouvia. Só eles.
      "Eu vou te dar o Fred..." e tirou da bolsa um amarrotado tigre de pelúcia, gasto pelo tempo "Eu tenho ele desde que me conheço por gente (e ai não iam mais que dezessete anos...) e você sabe, que sempre fui um cara meio sozinho. Eu, quando tenho medo, tenho duvida, troco uma idéia com o Fred... é uma bobagem, mas me ajuda, sei lá, levo o Fred escondido na mochila até pra fazer prova...!" eles riram "Se o povo do colégio souber disso vão me zoar pro resto da vida... Mas enfim, todas as vezes que senti solidão, medo ou insegurança eu abracei o Fred. E deu certo. Você vai estar muito longe, e eu não vou poder te abraçar, então quando nada der certo você abraça o Fred, é meu jeito de estar lá...." e ela não quis aceitar por que era algo deveras precioso, mas como fazer? O Fred foi na mala, junto com esperanças e sonhos de um universo totalmente novo. Ele foi com ela para todos os cantos. O namoradinho  virou poeira na vida dela, mas o Fred continuava ali. A solidão vinha, o medo vinha, a insegurança vinha,  e ninguém sabia que ela abraçava o Fred todo dia, por que sabia que não havia ainda visto nada de tão verdadeiro na vida quanto aquele presente que ganhara no passado.
      A vida passa e nos tornamos pessoas ruins talvez e ela bem sabia, não guardava mais ilusões. Todavia, olhando para o Fred ela amava o presente pelo que representava, pelo que fora um dia e pelos planos que fizera tão menina ainda. Ria as vezes sozinha "bombons e rosas ainda tem de comer muito arroz com feijão pra superar esse presente...talvez nem aquele que deu saiba a dimensão disso." Olhar o Fred era dizer 'Eu posso fazer melhor...' e estava fazendo. Sem sombra de dúvidas.


Um comentário:

Lígia disse...

Nossa.... chorei!!!