domingo, 20 de maio de 2012

Intervalo Piegas

Que se tornem alaranjados
os uniformes das crianças
e que da cor já não reste traços
até onde a vista alcança.


Que se mude também a bandeira
sobrando apenas brasão engomado
disperso por brincadeira
no desgostoso fundo alvo


E que nunca mais se mencione
os olhos claros da mocinha
nos quais se perdem louvores
em historias da carochinha

Que doravante se tornem cinzas
que os dias passem nublados
por que do azul não quero lembrar
tantas horas não gastas ao lado


Pensamentos não realizados
por quem se quer proferidos
tornam a vida mais dura
quando se tem querer escondido

Querer e poder
não valem
quando há ética no meio
quando se foi criada
para não viver sem sentir medo


E não importa que os dias venham
que as horas enfim se mudem
que as coisas tomem lugares mais certos
e se tire do mundo a ferrugem


Ainda assim barreiras persistem
ainda assim não daria jeito
por que os homens dessa cidade
sabem bem do que tem medo


A moça não dorme cedo
ela volta de madrugada
quer trabalhar primeiro
nem pensa em ser casada

Que se pinte tudo de cinza
e que eu me esqueça essa toada
pois que se assim não for feito
viverei meus dias atordoada

Cada vez que erguer os olhos
E ver o céu  de anil pintado
Vou me lembrar sem barreiras
que de anil seu rosto é marcado
e que por tras das lentes de vidro
há um grande clichê guardado...
(eu pago a língua e
meus pecados
do julgamento que fiz
a tantas moças no passado...)

2 comentários:

Thais disse...

quantas lembranças/sentimentos, que esse poema me trouxe!!!!!!!

Anônimo disse...

É, Dani... sempre tirando da gente algum "entalado na garganta" que não sabia se expressar. Muito bom!