segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Outra parte 3 (o segredo desvendado...)



Dia 31:
 Fui de novo procurar dona Hermengarda. Ela não quis falar no assunto. O povo lá do curso acha que estou ficando doida. Nunca usei droga nenhuma, que bobagem.
Dia 34:
Perguntei pro porteiro qual era a questão, ele também não falou no assunto. To começando a desconfiar que tem mais angu nesse caroço que desconfia nossa vã filosofia! Perguntei até pro Marilia Gabriela mas ele disse "Não sei de nada não, meu amorrrrr, mas se quiserrrr sairrrr qualquerrrr dia pra tomarrr um açai, exxxxtamos ai...." e eu fui dormir com o ouvido doendo de tanta chiadeira.
Dia 36:
Te juro que se não fosse a barulhada achava até boa essa história do maníaco por que a preguiça que eu tenho ultrapassa meu medo.
Dia 37:
Muito barulho, muito mesmo, uma coisa tremenda. Cozinha ensaboada, louças espalhadas, luz acesa, uma palhaçada. Do jeito que estava subi as escadas e gritei no corredor como uma maluca até a velha  Dona H. abrir a porta! O que ela fez por sinal com cara de poucos amigos "Entre!" e eu entrei, não sem reparar que, além dos bobes, ela usava um roupão cor de rosa idêntico ao meu ( e eu que brigava quando me falavam que eu usava roupa de velha na época da faculdade...).
 "Está certo menina, eu digo o que quiser, só não faça escândalo. Meus gatos estão dormindo.." Entrei no apê da velha, que era igual ao meu, mas com aqueles quadros de borboletas mortas na parede, papel de parede de florzinhas do campo e uma televisão daquelas de madeira onde provavelmente ela deveria ficar assistindo Raul Gil no sábado a tarde. " A senhora me desculpe o escândalo, dona Hermengarda, mas não há mais jeito, estou precupada, louca, desesperada...Me conte, do que se trata?" "Não fique desse jeito, não é algo que possa te fazer mal diretamente..." "Como assim?" "Quer biscoitos?" "Não!" "Chazinho?" "Não...!" "Essas moças de hoje estão magras desse jeito por que não comem direito, Deus me livre...Enfim...Eu moro nesse prédio desde menina...E ai já vão mais de setenta anos...Casei e fiquei morando aqui mesmo." "Eu achei que a senhora fosse paulistana!" "Nada, papai era. Teve que vir pro Rio a negócios, coisas assim. Mas sempre se orgulhou de ser paulista ,essa coisa toda, e não deixava a gente puxar os erres e o esse como se faz aqui. Sotaque bom era o paulistano e qualquer moleza na fala era punida com tabefes. " Eu achei aquilo estapafúrdio, mas antes aquilo do que o sotaque "mariliagrabrielense" do vizinho do lado e olhando mais ao fundo vi uma bandeira de São Paulo envelhecida na moldura pendurada na parede. Enfim, ela continuou dizendo que ali havia morado uma familia cuja a mãe tinha mania de limpeza e arrumou uma governanta que era ainda pior. As duas disputavam para ver quem deixava tudo mais limpo, a mãe não deixava a governanta trabalhar e as duas morreram brigando. A única pessoa que conseguira morar depois disso no apartamento foi um rapaz, que dava aulas de "historia de historiografia alemã no pós segunda guerra num contexto de proeminente polarização da economia, cultura e sociedade " na federal e que de certo deveria ter mania de limpeza também. Mas não parava ninguém aqui desde então, todo mundo se muda correndo...e não adiantaria mandar rezar missa, nem nada,...elas não desgrudariam nem por decreto!"E olha que faz tempo que ninguem reclama!"Eu fiquei estupefata "Dona Hermengarda posso dormir aqui com a senhora hoje?" "Pode minha filha, não tem problema. Gravei o programa Silvio Santos da semana passada, vou colocar pra você assistir." E no sofá de Dona Hermengarda eu sonhei que tudo aquilo não passava de uma "Câmera Escondida"!
Dia 39:
Uma vez na minha vida fui católica, mas acredito que nesse negócio de espantar assombração o esquema mesmo é falar com profissionais do assunto.Liguei pra Igreja Universal que tem na esquina e contei o problema " Já vi de tudo nessa vida, agora encosto com mania de limpeza foi a primeira vez!" disse o pastor que apareceu aqui com dois obreiros, expulsando todo mundo dali aos gritos de "saaaaaaaaaaaai capeta!". Eu ainda tentei explicar pra ele que não era o capeta, mas uma dona de casa e uma governanta,porém não adiantou muita coisa, ele ficou o tempo todo expulsando o capeta mesmo, ou seja, mesmo depois daquela gritaria toda, além de uma chamada de atenção do síndico a sala de estar amanheceu no mais perfeito estado de arrumação possível. 
   Dormi de porta trancada e tampões nos ouvidos e sonhei que o Constantine expulsava as duas e ficava morando aqui comigo pra sempre. Acordei de consciência pesada por ter traído o Matthew Broderick! 







domingo, 20 de maio de 2012

Intervalo Piegas

Que se tornem alaranjados
os uniformes das crianças
e que da cor já não reste traços
até onde a vista alcança.


Que se mude também a bandeira
sobrando apenas brasão engomado
disperso por brincadeira
no desgostoso fundo alvo


E que nunca mais se mencione
os olhos claros da mocinha
nos quais se perdem louvores
em historias da carochinha

Que doravante se tornem cinzas
que os dias passem nublados
por que do azul não quero lembrar
tantas horas não gastas ao lado


Pensamentos não realizados
por quem se quer proferidos
tornam a vida mais dura
quando se tem querer escondido

Querer e poder
não valem
quando há ética no meio
quando se foi criada
para não viver sem sentir medo


E não importa que os dias venham
que as horas enfim se mudem
que as coisas tomem lugares mais certos
e se tire do mundo a ferrugem


Ainda assim barreiras persistem
ainda assim não daria jeito
por que os homens dessa cidade
sabem bem do que tem medo


A moça não dorme cedo
ela volta de madrugada
quer trabalhar primeiro
nem pensa em ser casada

Que se pinte tudo de cinza
e que eu me esqueça essa toada
pois que se assim não for feito
viverei meus dias atordoada

Cada vez que erguer os olhos
E ver o céu  de anil pintado
Vou me lembrar sem barreiras
que de anil seu rosto é marcado
e que por tras das lentes de vidro
há um grande clichê guardado...
(eu pago a língua e
meus pecados
do julgamento que fiz
a tantas moças no passado...)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A Outra. Parte 2.

Dia 13
Quem não dormiu a noite toda levanta a a mão? \o/ Logo de manhã fui até o sindico perguntar que porra foi aquela, se isso estava acontecendo  nos outros apartamentos também "Não sei de nada , não falo disso. Pergunte a Dona Hermengarda!" Ele disse com cara de poucos amigos.E eu até teria ido, mas não, tive que correr pra substituir algum outro professor com disenteria. Amanhã vou sem falta!
Dia 14
 Não pude falar com Dona Hermengarda por que Renato finalmente chegou de Macaé. Ficou puto com a bagunça, a essa altura a cozinha estava um lixo outra vez " Essa é a maior zona do Rio de Janeiro inteiro!Tá perdendo pra Vila Mimosa!" e depois é claro morreu de rir. Não achei graça nenhuma. Mas pelo menos ele me ajudou a montar minha mobília.
 Fiz ele dormir aqui "vai ficar que se o maniaco aparecer cê faz cara da mau e mata ele de rir, sei lá!"
Ele não pareceu gostar muito, mas ficou. E eu tive que emprestar minha cama pra ele por dois motivos óbvios. Primeiro que ele é folgado mesmo. E outra que ele não cabe no sofá!
 De qualquer forma a presença dele ali me deixou mais tranquila, acho que o maníco deve saber quando tem mais gente em casa, sei lá. Só sei que nada aconteceu durante a noite. E eu até respiraria aliviada se não estivesse com rinite! Ufa!
Dia 17
Renato foi embora , aquele ingrato(Latino é poesia pura!). E lá fui eu subir três lances de escadas atras das esclarecedoras palavras de dona Hermengarda. Bati e não tinha ninguém. Por via das duvidas dormi de porta trancada!
Dia 18
 No meu andar tem um vizinho muito lindo, diz que joga futebol e ama todo mundo. Pelo menos é o que eu escuto quando ele se despede das meninas que dormem ai do lado! Ontem ele ainda acrescentou um "te ligo maixxx tarde, meu amorrrrr..." e, depois de pensar no quanto mulher é bicho besta, conclui que ele fala "meu amorrrrr!" igualzinho a Marilia Gabriela do Pânico ....
Dia 20:
Cade a porra dos 40 graus que me prometeram?Acho que se mudaram pra São Paulo junto com o dragão tatuado no braço do Menino do Rio!Friaca da porra!
Ps1: Meu vizinho realmente acha que ele é o menino do Rio.
Ps2: Dona Hermengarda deve ser surda ou fingir que não estou batendo na porta!Fui lá hoje de novo.Consigo ouvir o barulho da tv, mas ela não me atende!! A cozinha amanheceu limpa outra vez mas não houve barulho. Puta merda. To ficando neurótica.
Dia 23:
Noite sem barulhos, mas a sala amanheceu organizada! A situação passou dos limites!Subi até a casa da dona Hermengarda e bati na porta. Ela só abriu quando eu disse que era do "Bau da Felicidade"  e que ela finalmente havia sido contemplada com prêmios em barras de ouro, que valem mais do que dinheiro, por pagar em dia as mensalidades! Abriu a porta: "Mas você é a moça do 301!" "A senhora me desculpa dona Hermengarda mas não havia outra forma de falar com a senhora! Me conte pelo amor de Deus o que acontece no meu apê!" ela fechou a cara "Não sei por que não fecham esse apartamento de uma vez!Sempre o mesmo problema... Escuta menina, eu se fosse você, desistia. Não há nada que você possa fazer. Mude-se." e fechou a porta na minha fuça, a velha louca. Curiosidade? Quase nenhuma, imagine! E que constem nos autos que não me mudo daqui coisa nenhuma. A esse preço durmo com uma espingarda do lado todo dia, mas não me mudo!
Dia 27:
Manhã de sexta, eu não trabalho, é uma benção. Desci pra deixar lixo na rua dei de cara com o vizinho "Bom dia , meu amorrrrr!" disse a 'Marilia Gabriela'. E eu achei lindo. Só que ao contrario.







segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Outra (Terror, suspense e mistério em 5 partes...) Parte 1


Dia 1:
Eu aluguei um daqueles apartamentos antigos  por que eram maravilhosos e baratos. A janela da sala é de um vidro antigo, enorme, e eu consigo até ter uma vista bacana apesar dos outros prédios e da distancia absurda até a praia mais próxima.O aluguel é incrivelmente barato. Só a taxa de condomínio é um pouco pesada para um predio onde o elevador funciona como uma virgem temperamental de TPM.
Dia 2:
Minha parca mobilia chegou hoje do interior . Quis arrumar tudo mas ando tão cansada que acabei não arrumando nada.
Dia 9:
Ainda não arrumei nada, as coisas estão todas espalhadas pela casa, as louças por lavar, mas a correria é absurda. Tudo aqui é muito longe. Minhas roupas estão espalhadas, uma tremenda bagunça. Ainda estou dormindo num colchão no chão. Fim de semana se o Renato não vier me ajudar a montar esses móveis eu vou...Bem, eu vou continuar mais uma semana sem eles montados... Enfim, tenho chegado, assistido televisão encostada nas caixas, os cinzeiros todos espalhados. Se minha mãe visse isso tinha um treco.
Dia10:
É fato, e quem me conhece sabe: tenho sono de pedra, e sou daquelas que se o mundo estiver acabando eu nem vejo, e ainda xingo ""Maldita hora pro mundo acabar, tava aqui sonhando com o Matthew Broderick aos vinte e seis anos!" depois puxo a coberta  na cabeça e volto a dormir!  Agora sobre sonambulismo de minha pessoa nunca tive noticias!Pois não é que hoje de manhã, acordei e a cozinha estava incrivelmente limpa e arrumada? Cada ladrilho, cada prato, cada caneca...Incrivelmente limpos. Devo ter passado a noite ariando panelas !Existe uma domestica morando no meu sono e eu nem sabia. Pelo menos não vejo que estou trabalhando e acordo descansada achei uma ótima ideia. Essa noite vou lembrar de trancar as janelas do apê de qualquer forma. Vai que junto com a doméstica, mora uma suicida e eu acorde morta no IML amanha cedo, depois de me jogar da janela?
Dia 11:
Bem que eu poderia lavar o banheiro essa noite!
Dia 12:
Oh céus. Coisas muito,muito estranhas aconteceram essa noite. Muito estranhas mesmo. Estava dormindo quando ouvi barulho ao longe, como se alguém estivesse esfregando o chão. Ainda pensei, que diabos alguém esfrega o chão de madrugada. Depois pensei "Pode ser que eu mesma esteja esfregando o chão por que sou sonambula..." mas quando abri o olho estava na minha pseudocama , envolta em minhas cobertas, nenhum sinal de vassoura ou esfregão. Tentei dormir de novo e não consegui. O barulho estava próximo.Me levantei pra ir ao banheiro por que com esse frio a gente quase morre de tanto fazer xixi. E qual não foi a minha surpresa. Luz acesa, chão cheio de sabão, torneiras abertas!Então a domestica não era eu sonambula. Havia realmente alguma pessoa maluca entrando na minha casa de madrugada e faxinando minha coisas!Mas quem, como, por onde? Se a porta tava trancada e eu morava no terceiro andar? Liguei pra policia e a atendente teve a moral de rir na minha cara , depois me dar maior bronca "Isso não é hora de passar trote pra policia!" ainda me gritou antes de desligar!Eu gelei. O maluco ou maluca poderia estar dentro da minha casa ainda! Peguei um estilete e gritei "Estou armada, heim?"  mas, como diria-se nos romances, apenas obtive um profundo silêncio como resposta. Não consegui dormir o resto da noite.