sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A Questão Mourisca -parte 1



            A viagem era um tédio, passando os dias trancada esperando a hora que Marido chegaria para me dar alguma atenção, as outras mulheres também não se enturmavam muito, e eu sabia de cor o numero de tabuas do teto da cabine.
          Toda madrugada o Marido chegava cheirando a cigarro misturado com perfume, mas não bebia, isso ele não fazia hoje vejo, era mesmo um fracote. Não bebia uma gota de álcool sequer, jogava por diversão durante hora e meia( não era dado a noitadas longas) no cassino improvisado e depois voltava para roncar feito um irlandês do meu lado a noite toda, enquanto eu chegava  chorar de chateação.
             Claro que a minha idéia não foi das mais originais, mas resolveu o problema da viagem como nunca, e hoje tenho até um pouco de nostalgia. A principio foi mesmo curiosidade, eu arrumei uma calça e uma camisa com um dos artistas da classe econômica, haviam alguns circenses por ali, e acabei descendo um pouco as escadas do navio, as roupas me foram muito úteis até por que do auge dos meus dezessete anos (já três de casamento), eu passaria facilmente por um púbere rapaz imberbe. E naquela noite mesmo, logo depois de Marido pegar no sono quem se levantou fui eu. 
           A nuvem de fumaça tomava conta do ambiente de forma espessa, e na mesa ao lado eu pude ver que algumas das putinhas de sempre rondavam Vinicius. Seria engraçado tirar algum dinheiro dele no pôquer, o tédio tinha dessas, também te ensina a arte da observação. Me fingi de estrangeiro, não dominava o idioma,  forjei uma voz falsa e me pedi pra sentar. Fazia as apostas em silencio e depois da primeira vez que ganhei uma das putinhas veio sentar-se ao meu lado.
           O maldito sorria satisfeito por encontrar adversário a altura no jogo.A fumaça ia, eu tomei um gole pequeno de pinga, e continuei jogando. Noites assim se seguiram por vários dias. Ainda tínhamos alguns dias até o destino final.
            Aquela noite em que beijei o Vinicius foi hilária, não por que ele achou primeiramente que havia sido beijado por um homem, mas por que toda a movimentação que se deu em seguida me fez lembrar alguma comedia pastelão.
            Depois de jogar, a essa altura éramos parceiros, ele já ia saindo quando e  fui em seu encalço enquanto ele ria sozinho apagando o cigarro “Você é bom rapazinho.Fala pouco e joga bastante.Isso é importante.” Eu afirmei com a cabeça eu fui saindo, quando entramos pelos corredores em penumbra das cabines eu fiz menção de dizer algo ele se surpreendeu e eu o beijei.Depois soltei os cabelos, mas ele continuava com os olhos saltando das órbitas de tanto susto então mostrei os peitos, que era pro caso dele achar que eu era homem mesmo e querer me bater, mas ele ainda tava surpreso, decerto achou que eu era alguma aberração sei lá, depois ele riu “eu jamais desconfiaria” . E saindo dando risada. No outro dia ele foi jogar de novo eu também fui, ele não disse palavra sobre o assunto e na noite seguinte jogamos menos para que pudéssemos nos divertir mais na cabine dele.
            Foram varias noites dessas e eu acabei chegando em terra firme grávida do meu primogênito. E foi aí que se deu a questão.

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