sábado, 20 de agosto de 2011

Os doces anos 50.....

O menino andava as voltas com os livros uma vida inteira. Assim como os outros de sua idade gostava também de uma boa pelada, mas lia, escrevia e as vezes e ouvia o repórter esso com a avó. Já ia ele pelos onze anos e todos os dias por volta das cinco e meia via passar pela sua rua o professor Eduardo, em direção a casa assobradada  em que morava, logo ali na  esquina. Não era sem admiração que via o homem de chapéu e bigodes fartos passar com sua pasta nas mãos, lecionava no cientifico e no normal da escola com o nome do fundador da cidade e parecia inspirar nas pessoas um respeito de autoridade muito maior que o próprio delegado. Achou aquilo deveras bonito e um dia,  enquanto ouvia o Repórter Esso ao lado da avó, confidenciou-lhe "Quero ser professor..." .No que a avó, tão encurvada pelos anos,  fechou aqueles olhos que por pouco não nasceram escravos e não sem rir-se apenas murmurou "além de preto e pobre, é louco!"

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Conselho de Segurança.

    Ela ainda pensou antes de lhe dizer, por que a tarde caia pesada de sol e calor e não haveria mais volta, depois de ditas as palavras fogem do controle, não são mais de quem as proferiu, sempre a mercê da hermeneutica alheia. Todavia era necessario. Arrumou a boina do uniforme que insistia em cair e enfim discursou: "Se houvesse um conselho para te dar nessa vida...Não, nessa vida não, por que essa vida é tempo demais e os conselhos, assim como concursos públicos e provas de certificados internacionais,  também caducam. De um dia pro outro as coisas mudam como se nunca tivessem sido diferentes. Bem, se pudesse então te dar um conselho para esse momento te diria, ou melhor imploraria, por que tenho por voce aquele apreço que dedico a poucos, pediria que por favor não caisse na besteira de se apaixonar por mim. Isso seria devastador no sentido mais negativo da palavra. Te faria infeliz, te faria miserável,  não se apaixone, fuja, com insanidade, fuja como se mais de duas pernas houvesse, corra sem olhar para trás, como se estivesse tentando alcançar um prato de comida após tanto tempo sem comer. Não sei se isso trará felicidade mas tenho por certo que evitará transtornos, evitará tristezas, evitará misérias...O que já é grande coisa nos dias em que vivemos..."
 Ele foi embora sem responder nada. Era tarde demais.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Portas são Metáforas ou O Posfácio do Epitáfio

"Bateram na porta, hesitei, não quis abrir. Bateram de novo com força, mas depois não insistiu, desceu as escadas em silêncio e para sempre partiu. Partiu deixando na porta estas palavras fatais:'Eu sou a felicidade e não voltarei jamais.' " Clarice Lispector.




    Um dia qualquer ele resolveu abrir a porta e ver o que estava acontecendo lá fora. O que não deixa de ser louvável, uma vez que há muito que se ter pena de quem morre e não vai a porta pelo menos uma vez  na vida.
Mas há lá fora também um problema, por que aqueles que vivem lá  muitas vezes não percebem a loucura em que estão imersos e quando finalmente voltam para dentro acabam sentindo-se mal por melhor que estejam, tão acostumados estão as intempéries as quais se expõem desprotegidos. Acostuma-se com o mal e ele fica sendo bem muitas vezes por mais mal que seja.
            Pois então que um dia ele quis abrir a porta e pediu de volta as chaves, que ela lhe entregou não sem certo pesar, por que abrir a porta novamente na maioria das vezes não é coisa fácil. Assim sendo, ora assim sendo, ele finalmente saiu e o sol ofuscou seus olhos  e por muitos instantes tudo que viu foram vultos da verdade mas nada muito consistente, apesar de divertido. E foi andando assim às cegas até que os olhos foram finalmente se acostumando à claridade e as coisas foram parando de fazer sentido. Caiu ele então em desespero, tentando coçar os olhos, querendo novamente deixá-los turvos em vão. Mas uma vez que viam tudo não havia mais como cegá-los novamente e com a luz veio a verdade e a verdade era pesada.
            Voltou-se e pensou em novamente bater a porta da qual saíra, mas que loucura, a porta agora estava fechada, não sabia se alguém ali ainda havia que pudesse lhe atender. E se batesse a porta, alguém lhe atenderia? E se atendesse, seria a mesma coisa? E se o fosse, aquilo ainda o satisfaria? Era tanta duvida que vivia que já nem sabia se arrependimento havia.
 E tanto ela lhe avisara antes de fechar a porta por completo, mas vontade de moço é surdez de conselho e preferiu viver a moda das gentes de seu gênero, a necessidade de aprender sofrer sozinho para ver o que é bom , por que as palavras jamais lhe foram úteis, mesmo que diversas vezes sábias.
Sentado numa pedra agora ele jaz no meio do caminho, meio morto, meio vivo, esperando endoidecido por uma porta que se abra, uma porta que o acolha, sem entender que  jamais se sentirá em casa enquanto não se ajustar na própria casa que leva dentro de si e quanto a isso não há saída. As duras penas é preciso aprender a viver.

domingo, 7 de agosto de 2011

Sadismo Materno

Bem, se você quer saber mesmo como aconteceu, eu digo, foi tudo mais ou menos assim, Vitória, eu estava fazendo faculdade, fui a uma festa estranha dos alunos do curso de engenharia, fora do campus. Lá pelas tantas, como já não era suficiente aquele monte de gente bêbada e aquelas músicas babacas, vomitaram nos meus sapatos.
  Fiquei algum tempo morrendo de frio no ponto, esperando o primeiro ônibus da manhã passar, quando peguei carona com um cara com quem eu nunca tinha falado, que fazia engenharia também, que era mais velho e que me levou pra casa e algum tempo depois pro altar. E que depois virou seu pai e pai dos seus dois irmãos. Mas, veja bem, isso não é motivo pra você querer ir a festas da faculdade, muito menos para voltar de carona com desconhecidos de madrugada!
-Mas mãe não é uma festa da faculdade, é uma festa que as minhas amigas que fazem faculdade estão fazendo. E o irmão da Ba, o Thi, não é um desconhecido!
-Vá para seu quarto Vitória e reflita sobre a menina má que você tem sido!
-Mas mãe, você é muito malvada, cara! Por que você podia e eu não! Por que?
- Por que eu sou sua mãe, filhinha,e isso além de me dar algum poder sobre você ainda me dá o direito de não precisar ficar justificando meus atos.
-Eu faço dezoito anos daqui a uma semana!
-Pois é.Vou aproveitar a semaninha de poder que ainda me resta!
-Mãe ,sem sombra de duvidas.Você é sádica!