segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sonhos de Veraneio numa Tarde em Tremembé.........


Minha embriaguez era doce e leve como as demais e fez-me sair entre murmúrios para andar pelos meus devaneios e ver o que ainda havia ali. Território há tanto tempo abandonado, de teias e cacos quebrados, pedaços de histórias incompletas que iam se acumulando, como no baú de uma velha louca, que guarda para lembrar o que gostaria de esquecer.
Coisinhas sem muita importância, alguns pensamentos são simplesmente esquecidos sem maior dano ou preocupação, eles simplesmente somem de nossa idéia. E esperam oportunidade de vir à tona novamente, se assim houver chance. Mas nem tudo tem tanta importância, eu ri comigo mesma, nem tudo é assim tão importante que mereça ser lembrado, melhor que fiquem por ai essas idéias, a nadar no lodo do esquecimento, eu estava tão leve.
Encontrei a piscina azul cheia de presenças disformes e alegres, cujas gotas d’água refletiam a luz do sol da tarde. Quatro horas e suas flores turvamente lilases. As janelas e suas grandes conversadeiras. Em mim nada mais do que idéias incertas. Pensei em sorvete. De casquinha, para derreter com o calor e melar as mãos de cor de rosa. Havia uma certa aura paternal naquele sol que me levava a tomar sorvete no meio da tarde, caminhando pelos ladrilhos antigos, que faziam um barulho preguiçoso quando em contato com  chinelos. Do meu lado alguém também ia em sua preguiça, que importava se tivesse um nome ou morasse longe, ou perto que fosse, fazia calor como há muitas datas não se via, calor de embaçar as vistas, calor que emanava do chão, reforçando o abraço do sol no mundo. Olhei para frente e vi aquelas montanhas tão longe, milhares de anos e imóveis, o vale sempre tão quente... De longe eu via o calor subir dos ladrilhos e ri novamente, eu vi o calor! Nem tudo tinha tanta importância...
Ainda ao longe havia murmúrios de murmúrios, sentei-me no chão no salão de piso de madeira e toquei meus pés. Piso de madeira me dá vontade de deitar, de dançar, de correr. O espelho que ali jazia refletia ora luz, ora sombra, conforme Helio dançava pelo céu. Ainda ali sentada, ora na sombra, ora na luz alaranjada da tarde que se esvaia como o suor em minhas espáduas, eu vi o lago verde e suas florzinhas mimosas e lilases, como as flores do resto das flores do mundo.
O lago era verde e também era calmo e também era bonito, se é que algo havia de feio naquela tarde que se esvaía. As outras presenças aliviavam o abafado do tempo na piscina azul com detalhes esverdeados, eu quis saber a data daquela piscina de azulejos pequenos, mas não pude, pois momento houve em que meus olhos fixaram naquele que veio do lago e surgiu assim, a brisa quente e eu quis mergulhar para saber de onde vinha aquele moço tão grande, que enchia meus olhos, e as gotas de água do lago verde que  vinham pelas pernas e encontravam o chão dolorosas de terem de se soltar daquela epiderme convidativa. Elas refletiam aquele sol acolhedor e ele enchia meus olhos e como sol me esquentava. Parecia levemente embriagado. Ou eu via dessa forma.
         Ele veio e eu pensei que poderíamos nos sentar em alguma varanda e ver o resto da tarde partir, ainda faltava alguma boa parte dela a se ir embora, posto que havia então um decreto real a nos dar uma hora a mais de presença solar. Abri mais os olhos. Minha pele estava tão úmida quanto à dele. Era o calor me roubando os líquidos vitais. Eu não me importava, era tão bom aquele dolce farniente. E assim deitada eu permaneci durante muito tempo, o chão de madeira e a respiração, observar era tão bom, eu permaneci quieta a admirar a vida, até o momento em que me chamaram de volta... E eu acabei acordando na cama, ensopada em suor e desejo, mas o tempo já havia passado e noite chegara para nada, pois de que adiantava me privarem do sol se não cessa o calor, que embriaga, que devaneia? Virei-me no incomodo da úmida cama e tornei a dormir, para voltar até lá. Em vão. O sono me levou para caminhos gelados que não aqueles e me perdi para sempre da tarde, do lago e do moço.

Um comentário:

Igor Damasceno disse...

Muito bom, Dani!

P.S.: Sorte de quem consegue sonhar à tarde!