quinta-feira, 23 de junho de 2011

Seis e Trinta e Cinco

(ainda que caminhes ao olhares no relógio, reflete, aquele minuto foi nosso)


E então, a quantas anda sua vida, minha cara?

           Aqui as coisas me parecem bem , afinal. Os dias começam e terminam, as pessoas nascem e morrem. As ruas continuam em seus lugares e as casas daquela época resistem bravamente ao tempo e a modernidade famigerada que corrói, que atropela, que deprime.
         O sol ainda se põe no final da tarde como de costume, tomando a avenida principal e se escondendo na serra. E é graças às casas que resistem que ainda podemos ver tudo isso. Aqui os prédios ainda não arranham o céu.  As pessoas ainda caminham nas praças. As árvores ainda dão sombra. Mas os lugares vazios permanecem vazios.       Às seis os sinos badalam, mas já não há ângelus nas casas .Os carros se multiplicaram e as seis e trinta e cinco é possível ver no céu os efeitos alaranjados dos gases laçados por eles. Há ainda o mesmo burburinho, há ainda as luzes que acendem preguiçosas e há nesse instante o nó na garganta que há tanto tempo me acompanha e não tenho forças para desatar. À essa altura, já nem sei se quero.
     As seis e trinta e cinco eu ainda não faço uso da eletricidade para deixar os restos de luminosidade entrarem pelos cômodos por que tenho medo de mim. Escrevo no escuro para que você saiba que aqui tudo muda para permanecer igual. Para te dizer que queria contar novidades maravilhosas para te instigar a voltar (por que isso sim moveria o mundo de lugar), mas como já é sabido, me ensinaram na vida de tudo, menos mentir.
         Mas um dia há que se querer voltar, há que se procurar as raízes dessa sua existência tão colorida e tão distante. Por que não importa quão longe caminhe, haverá sempre o acontecido e lembrar ultimamente foi só o que me restou. Não há como substituir o passado por um presente fugidio em sua essência por essa superficialidade tão vaporosa que some das vistas como um sonho de uma sesta numa tarde quente de verão. Há sim, um dia que voltar.
         E quando voltar verá com os próprios olhos a velha mesmice e talvez assim também se veja parada no tempo. E encontrando-se assim talvez consiga mover as coisas de lugar como sempre foi de sue feitio, por que se ainda há a lembrança há agora também a espera.

                            Deixo-te um abraço desde já.


2 comentários:

Natália disse...

Angustiante, como o título sugere.

Carol Galharte disse...

nada muda...