terça-feira, 28 de junho de 2011

Somewhere Only We Know....

             Ela chegou atrasada aqule dia e todos os lugares estavam ocupados. Olhou para aquele único lugar vazio e lamentou-se . A aula passaria mais devagar e bem do lado daquele cara esquisito que não falava com ninguém? Ela sentou-se com a mochila abriu o fichário e como de praxe não quis saber do que se passava no quadro negro, apenas foi escrevendo nas folhas de bordas cor-de-rosa o refrão daquela música nova que ela achava que era daquela mesma banda que tocava a outra musica do piano interminável. Andava ouvindo por ai aquela música por que era bonita e lembrava de sol e suspirando pelos cantos pelo menino do primeiro ano, que por detrás da grossas lentes teve a sorte de ganhar seu coração com um oportuno elogio em sua voz empostada "Você cantou e dançou bem pra caramba na aula de teatro aquele dia..." e agora a escola que antes parecia um covil se tornara mais bela e colorida, por que aos dezessete anos tudo é motivo mesmo e se achava muito profunda." Você sabe que eu também adoro essa música?" o cara estranho ainda falou. Ela mal o olhou "É mesmo?" disse não sem algum descaso, caramba, gente intrometida deixava-a irritada, mas ele não parava "Eu vi clipe ontem, é muito legal..." e ela ouviu de novo  resolveu se interessar por que não havia ainda visto aquele clipe, e a conversa fluiu e depois disso o tempo passou, o rapaz do primeiro ano que usava grossas lentes ainda continuou com elogios muito oportunos o que a fez pensar que talvez o futuro fosse deles, e quando percebeu que não era ela chorou, mas chorou muito, como se dependesse a água do mundo daqueles olhos lacrimosos e naquele cara estranho sentado tão próximo ela viu um ombro bom e mais que isso, os olhos racionais que nunca tivera. Por que quando se explode em sentimento e não é possivel ver um palmo na frente do nariz, há que se recorrer a esse tipo de gente iluminada pelo dom do auto-controle, aquele cara estranho tava sempre perto dela, e riam muito sendo assim, por que para ele rir à toa era de praxe, acontecia o tempo todo, a porta da sala de aula batia, ele ria, um tom de voz diferente e ele ria e no dia que um dos maluquinhos daquele terceiro ano subiu na carteira e começou a berrar "minha honey babyyyyyyyyy" assim sem mais nem menos foi preciso um copo d'água para faze-lo acalmar o riso.  
        Quando enfim puderam respirar aliviados, no dia da formatura, onde finalmente se livrariam daqueles chatos incômodos que a escola às vezes proporcionava, por que as relações ali dentro se davam de forma não muito  pacífica, e as pessoas insistiam muitas vezes em magoá-los sem maiores motivos racionais, enfim, esse dia foi também foi o dia em que viu que eram mesmo bem amigos por que depois disso ele se foi e ela também, cada um pro seu lado, cuidar da  vida, ele correu atrás de estudar os frascos e comprimidos e meu Deus, acabou descobrindo uma planta!
         E houve aquela vez também do livro, por que se dava a escrever as coisas ele lia com muita atenção aqueles rabiscos e se não gostava também não escondia, mas o importante era que não parasse , ele dizia sempre, não pare com isso, por que é o que faz de voce o que é...mas houve a vez em que ela fora tão empurrada para baixo, de forma que se rastejava por ai pelos cantos, mas foi um livro, apenas um livro  de um escritor que segundo ele seguia por caminhos parecidos com o dela, esse livro assim comprado, de forma tão repentina, ele lhe deu o livro e ela sem graça, a ausência do presente reciproco "Quero um exemplar quando você lançar o seu próprio, autografado, por favor!" e ela até chorou depois mas não contou pra ninguém. E voltou a escrever claro, por que nenhum pseudointelectual da faculdade nunca mais conseguiu tira-la do próprio prumo novamente.
          E no final das contas, bem, no final das contas, havia muita coisa, mas muita coisa mesmo e ela pensava que deveria agradecer o Keane, (por que Somewhere Only We Know não era do Coldplay!) por que foi o clássico deles que acabara dando a ela o irmão que nunca tivera. E já que os rabiscos desse blog ainda não rederam aquela menina desconfiada nenhuma publicação que lhe dê o direito de dedicar e autografar qualquer coisa que seja, a dedicatória fica sendo virtual....
          " Ao meu querido amigo Renato Costa, dedico o blog a você por que por diversas vezes pude vê-lo muito mais empolgado com meus escritos do que eu mesma. Que Deus te cubra de bençãos. Feliz Aniversário!"

domingo, 26 de junho de 2011

Quando nasce uma criança....

         "Não sei... quando nasce uma criança não nasce apenas ela própria, mas uma serie de sentimentos e rearranjos novos no mundo, que deve tratar de se expandir para comportar mais uma pessoa. ..." ela concluiu ao olhar para o bebê que dormia e questionou-se como afinal de contas  o tamanho do mundo era sempre o mesmo se sempre havia muito mais gente nascendo do que gente morrendo. E isso constatava por que a avó fora parteira e saia o tempo todo para acudir mulheres pelos vales, dando a luz como coelhas, enquanto os cemitérios repousavam na paz de sua sepulturas intocadas, não sendo incomodados pela novidade de um defunto fresco já há muito tempo.
           Viu irmã engordar os nove meses não sem alguma repulsa, indo diversas vezes olhar-se no espelho e dar graças a Deus pela silhueta que ainda lhe pertencia "Mundo não é lugar de criança..." ela ainda murmurou mediante tamanha felicidade do cunhado, mas que coisa era aquela agora, aquele tipo de desejo, aquele de por mais gente no mundo nunca lhe parecera certo afinal de contas. A vontade de parir era capricho de gente egoísta, pensando na própria satisfação que teria em fazê-lo e não nas consequências daquilo para o pobre que nascia, afinal de contas ela mesma, dando-se conta daquilo, teria fugido se pudesse, mas não houve como e lá estava ela, lecionando, comendo, andando e vivendo, caminhando, respirando, amando, odiando e mesmo sem querer a cada dia morrendo, por que a sina das gentes era essa mesma que não outra.                                             Colocava-se os pobrezinhos no mundo sem consulta-los a vontade de viver, impelia-os a vida os pais, mesmo sabendo aquilo que viria cerca-los em virtude disso. Por pura compaixão dos próprios filhos não nascidos, ela que ainda era moça,  achou por bem dar um basta aquela crueldade e da sua parte pensou "são mais felizes nos planos das ideias." enquanto,  com o calor abafado do Rio de Janeiro ao seu encalço, ajudava a irmã a locomover-se pela casa, a tricotar casaquinhos e pensar em nomes ou calcular datas.
            Eis que veio então um dia e depois veio a  noite e veio com ela finalmente o rebento, resolvido que era  hora que enfrentar sua sina e cumprir sua obrigação, que ali naquele momento era nascer. E cumpriu-a muito bem , por que nasceu sem maiores problemas. 
E quando finalmente o viu, achou-o gracioso no seu sono, tomou-o nos braços e pensou no mundo, como era grande mesmo para caber todo mundo, devia haver algo que se movia para expandi-lo quando se nascia alguém. O menino abriu os olhos castanhos e como se adivinhasse seu pensamento disse-lhe rindo "Egoismo seria  não me dar a chance de nascer e de tentar ajudar a  fazer esse mundo fedido ai de fora virar uma coisa melhor!" e voltou a dormir. Ela riu-se "Essas crianças de hoje já nascem respondonas!" colocou-o de volta no berço e resolveu que já estava na hora de dar sua contribuição para o mundo. Foi correndo aceitar o convite do vizinho engenheiro.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Fetiches Verbais (com a colaboração de Natália Gonçalves)

        Eu não sei o que acontece por que fui muito bem criada, minha mãe como todos o sabem, é uma mulher de princípios muito sólidos e educação esmerada, então não consegui descobrir ainda em que momento da minha vida minha boca se tornou, no vocabulário das professorinhas horrorizadas, tão suja. Talvez tenha sido na escola de freiras em que estudei. Ou depois de 4 anos em republicas mistas, onde todo tipo de vergonha verbal que poderia existir em mim se foi de uma vez. Com tudo isso quero dizer que compreendo perfeitamente que nem todos aprovem esse tipo de conduta, mas por que meu Deus, por que eu sempre trombo com pessoas que tem verdadeiros fetiches verbais, não falam certas palavras nem por todo dinheiro do mundo?
       Há alguns dias um amigos quis referir-se a cloaca humana que todos temos entre as nádegas, carinhosamente apelidada pelos brasileiros de cu. Mas o sujeito se engasgava e quanto mais ele se engasgava mais eu dizia "cu, cu,cu!"  Ele simplesmente não conseguia e eu fui ficando nervosa e os amigos ao lado começar a repetir cu cu cu , foi um coro muito bonito por sinal, mas o pobre não disse a palavra "Não estou acostumado com esse tipo de vocabulário!" ele rugiu entredentes e mudou de assunto.
Sobre esse assunto de tão esmerada importância, falou o sábio Millôr Fernandes :
          "Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.(...)
          E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.(...)
         Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo?
Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.
Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se."


Em tempo: Cu em Portugal é a referencia que eles tem pra bunda. Vê só como estamos sujeitos a fetiches verbais culturais locais. Uma parte do corpo tão importante, sem ele nós acabaríamos igual o pintinho da piada, enfim...

Seis e Trinta e Cinco

(ainda que caminhes ao olhares no relógio, reflete, aquele minuto foi nosso)


E então, a quantas anda sua vida, minha cara?

           Aqui as coisas me parecem bem , afinal. Os dias começam e terminam, as pessoas nascem e morrem. As ruas continuam em seus lugares e as casas daquela época resistem bravamente ao tempo e a modernidade famigerada que corrói, que atropela, que deprime.
         O sol ainda se põe no final da tarde como de costume, tomando a avenida principal e se escondendo na serra. E é graças às casas que resistem que ainda podemos ver tudo isso. Aqui os prédios ainda não arranham o céu.  As pessoas ainda caminham nas praças. As árvores ainda dão sombra. Mas os lugares vazios permanecem vazios.       Às seis os sinos badalam, mas já não há ângelus nas casas .Os carros se multiplicaram e as seis e trinta e cinco é possível ver no céu os efeitos alaranjados dos gases laçados por eles. Há ainda o mesmo burburinho, há ainda as luzes que acendem preguiçosas e há nesse instante o nó na garganta que há tanto tempo me acompanha e não tenho forças para desatar. À essa altura, já nem sei se quero.
     As seis e trinta e cinco eu ainda não faço uso da eletricidade para deixar os restos de luminosidade entrarem pelos cômodos por que tenho medo de mim. Escrevo no escuro para que você saiba que aqui tudo muda para permanecer igual. Para te dizer que queria contar novidades maravilhosas para te instigar a voltar (por que isso sim moveria o mundo de lugar), mas como já é sabido, me ensinaram na vida de tudo, menos mentir.
         Mas um dia há que se querer voltar, há que se procurar as raízes dessa sua existência tão colorida e tão distante. Por que não importa quão longe caminhe, haverá sempre o acontecido e lembrar ultimamente foi só o que me restou. Não há como substituir o passado por um presente fugidio em sua essência por essa superficialidade tão vaporosa que some das vistas como um sonho de uma sesta numa tarde quente de verão. Há sim, um dia que voltar.
         E quando voltar verá com os próprios olhos a velha mesmice e talvez assim também se veja parada no tempo. E encontrando-se assim talvez consiga mover as coisas de lugar como sempre foi de sue feitio, por que se ainda há a lembrança há agora também a espera.

                            Deixo-te um abraço desde já.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

Isto é...Taubaté!

Ele se aproximou com o copo de vodka com energetico na mãoe  a camisa polo com algum emblema falso, uniforme de todos os homens ali, o cabelo bem cortado e o pescoço exalando O Boticario:
-E ai beleza?
Ela o olhou do alto de seu salto, de seu cabelo progressivo, de sua maquiagem a la Julia Petit e pensou que beleza ali passava longe, mas continuou sorrindo na esperança que ele se aproximasse novamente e lhe dissesse:
- E ai, riqueza?
Salvando assim a sua noite e quem sabe sua vida.